quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Histórico da Biossegurança



Os registros apontam que entre os anos 40 e 50, vários pesquisadores estudaram infecções humanas com vírus e bactérias adquiridas nos locais de trabalho, seja por exposição direta ou indireta ao agente infeccioso.
Na década de 40, o Governo dos EUA iniciou no chamado Forte Detrick, um programa tendo por objetivo a preparação para a guerra biológica. A preocupação veio com o uso de foguetes pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial, os quais poderiam ser utilizados como veículo para a Guerra Biológica. Neste Forte foi construída a primeira instalação de segurança dedicada ao trabalho com agentes biológicos, a chamada “Black Maria”, um laboratório unicamente dedicado ao trabalho em contenção (trabalho realizado em regime estritamente fechado, sem qualquer possibilidade de comunicação com o meio externo).
Figura 1: Fotografia do primeiro laboratório de segurança biológica, o “Black Maria”, nas instalações do Forte Detrick, nos EUA.

            A biosseguranca constitui uma área de conhecimento relativamente nova, regulada em vários países por um conjunto de leis, procedimentos ou diretrizes especificas.
A segurança dos laboratórios e dos métodos de trabalho transcende aos aspectos éticos implícitos nas pesquisas com manipulação genética. Medidas de biosseguranca específicas devem ser adotadas por laboratórios e aliadas a um amplo plano de educação baseado nas normas nacionais e internacionais quanto ao transporte, a conservação e a manipulação de microorganismos patogênicos.
            Laboratórios de microbiologia são, com freqüência, ambientes singulares de trabalho que podem expor as pessoas próximas a eles, ou que neles trabalham, a riscos de doenças infecciosas identificáveis. As infecções contraídas em um laboratório tem sido descritas por meio da historia da microbiologia. Os relatórios de microbiologia publicados na virada do século descreveram casos de tifo, cólera, mormo, brucelose e tétano associados a laboratórios.
Em 1941, Meyer e Eddie publicaram uma pesquisa de 74 casos de brucelose associados a laboratório ocorridos nos Estados Unidos e concluíram que “a manipulação de culturas ou espécies e a inalação da poeira contendo a bactéria Brucella são eminentemente perigosas para os trabalhadores de um laboratório”. Inúmeros casos foram atribuídos a falta de cuidados ou a uma técnica de manuseio ruim de materiais infecciosos.  
Figura 2: Representação da poeira (aerossol) contendo a bactéria Brucella.

Em 1949, Sulkin e Pike publicaram a primeira de uma serie de pesquisas sobre infecções associadas a laboratórios. Eles constataram 222 infecções virais, sendo 21 delas fatais. Em pelo menos um terço dos casos, a provável fonte de infecção estava associada ao manuseio de animais e tecidos infectados. Acidentes conhecidos foram registrados em 12% dos casos relatados.


Em 1951, Sulkin e Pike publicaram a segunda de uma série de pesquisas baseada em um questionário enviado a 5.000 laboratórios. Somente um terço dos 1.342 casos citados foi relatado na literatura. A brucelose era a infecção mais freqüentemente encontrada nos relatórios em relação as infecções contraídas em um laboratório e, juntamente com a tuberculose, a tularemia, o tifo e a infecção estreptocócica, contribuía para 72% de todas as infecções bacterianas e 31% das infecções causadas por outros agentes.
      O índice total de mortalidade era de 3%. Somente 16% de todas as infecções relatadas estavam associados a um acidente documentado. A maioria desses estava relacionada ao uso de pipetas, seringas e agulhas. Essa pesquisa foi atualizada em 1965, quando houve um acréscimo de 641 novos casos ou de casos que não haviam sido relatados anteriormente.
      Em 1967, Hanson e colaboradores relataram 428 casos patentes de infecções de arbovírus associados a laboratório. Em alguns casos, a capacidade de um dado arbovírus de produzir uma doença humana foi primeiramente confirmada como o resultado de uma infecção não-intencional da equipe laboratorial. No caso, os aerossóis infecciosos eram considerados a fonte mais comum de infecção.
Em 1974, Skinholj publicou os resultados de uma pesquisa segundo a qual os funcionários dos laboratórios clínicos dinamarqueses apresentavam uma relatada incidência de hepatite (2,3 casos ao ano por 1.000 funcionários) sete vezes maior que a população em geral. De maneira semelhante, uma pesquisa de 1976, realizada por Harrington e Shannon, indicou que os trabalhadores de laboratórios médicos na Inglaterra apresentavam um risco cinco vezes maior de adquirir uma tuberculose do que a população em geral. A hepatite B e a shigelose também eram conhecidas por serem um continuo risco ocupacional. Junto com a tuberculose, essas eram as três causas mais comuns de infecções associadas a laboratório relatadas na Grã-Bretanha.
Em 1976, houve uma nova atualização, perfazendo um total acumulativo de 3.921 casos. A brucelose, o tifo, a tularemia, a tuberculose, a hepatite e a encefalite eqüina venezuelana eram as infecções mais comumente relatadas. Menos de 20% de todos os casos estavam associados a um acidente conhecido. A exposição aos aerossóis infecciosos era considerada uma fonte plausível, mas não confirmada, de infecção para mais de 80% dos casos em que as pessoas infectadas haviam trabalhado com o agente.
Três casos secundários de varíola foram relatados em dois surtos associados a laboratório, na Inglaterra, em 1973 e 1978. Relatos anteriores de seis casos de febre Q entre os funcionários de uma lavanderia comercial que lavava os uniformes e as roupas de um laboratório que manipulava o agente, um caso de uma pessoa que visitava o laboratório e dois casos de febre Q em contatos domiciliares de um rickettsiologista também foram constatados. Existe o relato de um caso de transmissão do vírus B de um macaco para um tratador de animais infectados e deste para sua esposa, aparentemente provocado pelo contato do vírus com a pele lesionada do individuo.
No Brasil o surgimento da Biossegurança ocorreu a partir de 1984, porém somente em 1995 foi sancionada a Lei da Biossegurança, conforme dados a seguir:

1984: Primeiro Workshop de Biossegurança (em laboratórios) – FIOCRUZ
1986: Primeiro levantamento de risco em laboratórios na FIOCRUZ – INCQS

Década de 90: a Biossegurança começa a ser direcionada para a tecnologia do DNA recombinante. Primeiro projeto de fortalecimento das ações em Biossegurança. - Ministério da Saúde – Núcleo de Biossegurança.
1995: Lei Brasileira da Biossegurança  - Lei n° 8974/95 (estabelece regras para o trabalho com DNA no Brasil, incluindo pesquisa, produção e comercialização de  Organismos Geneticamente Modificados (OGM’s) de modo a proteger a saúde do homem, animais e meio ambiente.
Publicação do Decreto 1752/1995, que formaliza a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio e define suas competências no âmbito do Ministério da Ciência e Tecnologia.
1999: fundação da Associação Nacional de Biossegurança – ANBio ( www.anbio.org.br); Ocorreu ainda neste ano, o Primeiro Congresso Brasileiro de Biossegurança.
2000: início da introdução da Biossegurança como disciplina científica no currículo universitário.
2001: CNPq lança programa de indução das ações em Biossegurança.
2005: Regulamentação da lei brasileira de Biossegurança Lei 8974/95.



           
Referências:

Biossegurança em laboratórios de Análises Clínicas. Disponível em: <www.ciencianews.com.br/revistavirtual/trabzochio.pdf.> . Acesso em: 24/10/2011.

Ministério da Saúde. Biossegurança em laboratórios biomédicos e de microbiologia. 3ª Edição revista e atualizada. Série A. Normas e Manuais técnicos. Brasília- DF, 2006.

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